A adoção de uma criança nunca é tardia

25/05/2015

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O Brasil comemora nesta segunda-feira (25/5) o Dia Nacional da Adoção com cerca de 5,7 mil crianças e adolescentes à espera de um novo lar. Mas diferente do que muitos imaginam, esse alto número não se deve à falta de interessados em adotar uma criança.

Dados do Cadastro Nacional de Adoção mostram que o número de pretendentes (5,7 mil) é quase seis vezes maior que o número de crianças que aguardam por uma família. O que torna a fila longa e demorada é, na verdade, o fato de a maioria dos interessados na adoção darem preferência à crianças de até dois anos de idade. Isso faz com que boa parte das crianças mais velhas vivam em abrigos até completarem a maioridade.

Em 2014, a agência Revolution Brasil conquistou o quinto maior prêmio de publicidade do mundo,  El Ojo, com a campanha criada para a ONG Aldeia Nissi, que aborda exatamente essa preferência na adoção de crianças mais novas. Em uma série de anúncios impressos, a campanha incentiva a adoção tardia mostrando crianças angolanas mais velhas ocupando lugares normalmente voltados para as mais novas, como berço, cadeiras de bebes e triciclos. Para mostrar que, independente da idade, toda criança merece ter um lar e uma família, as peças explicam que “para 93% dos órfãos angolanos é tarde demais”.

Parte do preconceito em relação às crianças maiores  vem do fato de casais acreditarem ser mais fácil adotar uma criança que ainda não é capaz de entender a situação e de temerem levar para casa uma criança com formação ruim ou revoltada pelo abandono que sofreu. “Os pretendentes, em geral, têm o sonho de encontrar a criança ideal, mas o que existe é a criança real, possível”, afirma Hália Pauliv de Souza, membro do Grupo de Apoio à Adoção Consciente de Curitiba.

A adoção tardia também foi destaque na caminhada realizada ontem na orla de Copacabana para promover o  Dia Nacional da Adoção e organizada pela Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção, pelo Tribunal de Justiça do Rio e pela Assembléia Legislativa. O ato contou com a participação tanto de pais adotivos quanto de pretendentes que ainda estão na fila de espera e reforçou a importância de não deixar de lado as crianças mais velhas. A maior facilidade nesse caso de adoção foi destacada pela advogada Dália Taiguara, de 44 anos. “Eu não demorei muito por causa do perfil. Em 2009 eu queria uma crianças de até cinco anos e fiquei um mês na fila. Já com a outra nem na fila fiquei, por causa da idade e da cor. Negra e de 12 anos”.

Para o advogado Uriel Carlos Aleixo a adoção não é aconselhável  para quem quer apenas encobrir complexos ou fazer uma caridade. “A adoção é um ato de amor e deve servir para dar um lar e uma esperança a essas crianças”, afirma Uriel.

A boa noticia é que, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça, as exigências dos interessados quanto à cor, idade ou sexo das crianças vem diminuindo a cada ano. Entre 2010 e 2014, o número de  pessoas que exigiam uma criança branca, por exemplo, caiu em 10%. Neste mesmo período, o número dos que aceitam crianças com mais de três anos aumentou de 41% para 51,5%.

Demorou para dar resultado, mas , a cada ano, conseguimos conscientizar mais que não interessa a faixa etária. Filho é para a vida inteira”, afirma o juíz da çoordenadoria de Infância e Juventude de São Paulo, Reinaldo Cintra, em entrevista para o site Folha.