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Intolerâncias nas redes:

 

Um problema crescente

Uma banana atirada em um campo de futebol na Espanha, um rapaz sendo agredido com uma lâmpada fluorescente em plena Avenida Paulista, em São Paulo, jovens expulsos de uma loja da Apple em Melbourne, na Austrália, uma menina sendo apedrejada no Rio de Janeiro, um candidato a presidente dos Estados Unidos propondo separar seu país do vizinho com um muro, outro, já construído, separando manifestantes pró e contra à então presidente da República, em Brasília.

Dentro e fora do Brasil, todos os dias nos deparamos com histórias que exibem a escalada da intolerância entre nós. Os casos acima tomaram grandes proporções, ora por seus protagonistas ilustres – tanto do lado agressor quanto do agredido –, ora por causar a amarga sensação, conhecida por todos nós, de estarmos próximos ao limite da convivência pacífica. Ainda assim, para cada caso repercutido pela grande mídia, há inúmeros outros que, nas redes sociais, ofendem e agridem sem expectador nem testemunha.

 

FORAM ANALISADAS NADA MENOS DO QUE 542.781 MENÇÕES E O RESULTADO É ACACHAPANTE.

 

Durante três meses – de abril a junho de 2016 – o Comunica Que Muda (CQM), uma iniciativa da agência
nova/sb, monitorou dez tipos de intolerância nas redes sociais, em relação à aparência das pessoas, às suas classes sociais, às inúmeras deficiências, à homofobia, misoginia, política, idade/geração, racismo, religião e xenofobia.

Toda vez que alguma palavra ou expressão referente a um desses assuntos aparecia em um post do Facebook, do Twitter, do Instagram, de algum blog ou comentário em sites da internet, este post era recolhido e analisado pela equipe do CQM, com ajuda de um software de monitoramento, o Torabit.

Foram analisadas nada menos do que 542.781 menções, e o resultado é acachapante. Nos dez temas pesquisados, o percentual de abordagens negativas está acima de 84%. A negatividade nos temas que tratam de racismo e política é de 97,6% e 97,4%, respectivamente, quase empatados. Ou seja, os comentários positivos, ou neutros, sobre esses dez temas nas redes são diariamente encobertos por uma torrente de comentários negativos.

 

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Eles expressam enormes intransigências, ataques e zombarias em relação a esses assuntos ou a pessoas – sejam públicas ou não. É importante notar também que a intolerância de maior audiência é a política (quase 274 mil menções), mais de três vezes superior à misoginia, que aparece em segundo lugar, com quase 80 mil menções. O tema da política reflete, necessariamente, o contexto de crise política e econômica pelo qual passa o País.

Outro dado relevante é a comparação da quantidade de menções sobre intolerâncias entre os Estados do País. Em números absolutos, a unidade da Federação que mais apresenta menções, cuja esmagadora maioria é de menções intolerantes, é o Rio de Janeiro, com mais de 58 mil menções – 0,352%, segundo lugar na proporcionalidade em relação à sua população, que é de 16,5 milhões –, conforme estimativa do IBGE em 2015. Proporcionalmente, o Distrito Federal é o mais intolerante, com mais de 11 mil menções (0,411%). São Paulo, que é o segundo em números absolutos, 50 mil menções, está em sétimo lugar em proporcionalidade (0,114%). Mais detalhes na tabela ao lado, cujo ranking se dá em número absoluto de menções.

Por acreditar na comunicação pública como agente transformador na vida das pessoas é que o Comunica Que Muda mergulhou por três meses nas principais redes sociais do País para produzir um retrato das intolerância que sofremos e cometemos em nosso cotidiano. Investigamos as causas, formas e consequências desse fenômeno crescente que transita livremente nas timelines, casas, salas de aula e escritórios de todos. Por fim, discutimos formas de lidar com o problema e propomos saídas que, invariavelmente, passam pela comunicação e o diálogo como forma de minimizar as tensões e aumentar a empatia entre os diferentes.

O quadro mostra apenas as menções capturadas que continham geolocalização, por isso não reflete o total do universo pesquisado.
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