Já se sentiu um ET?

17/03/2017

Este vídeo do irmão é uma inspiração

O cineasta Fernando Grostein, de Quebrando Tabu, inaugurou seu canal no YouTube com um relato inspirador sobre a aceitação de sua homossexualidade.

Publicado pelo Huffpost Brasil em 15/03/2017

Essa é a primeira vez que ele fala sobre o assunto publicamente.

No vídeo intitulado Cê já se sentiu um ET?, Grostein faz uma reconstituição de sua história, relatando inicialmente a perda do pai, um dos empresários que trouxe a revista Playboy para o Brasil.

Na sequência, revela as dificuldades que enfrentou com a família, amigos e consigo mesmo até se sentir tranquilo com o fato de ser gay.

“Começou a ficar difícil me relacionar com os meninos da minha idade, porque só falavam de menina e futebol. Eu achava um saco, não gostava, não era minha praia. Nem futebol e nem mulher pelada. Me sentia cada vez mais um E.T., alguém que não pertencia a esse mundo.”

O cineasta revela que, aos 14 anos, teve a primeira experiência que sinalizava uma orientação diferente.

“Aos 14 anos tive um sonho com um amigo e comecei a sentir vergonha dos meus amigos, da minha família, de tudo, comecei a me fechar. Tinha certeza que eu tinha que ter uma namorada, comecei a me obrigar a ver Playboy, para ver se a coisa ia, na força, no jeito. Aí eu comecei a namorar uma menina super legal, que até hoje peço desculpas, não sabia o que eu sei hoje.”

O primeiro contato homoafetivo viria mais mais tarde. Segundo Grostein, foi com um amigo, quando voltam bêbados de uma festa.

“Ele tava bêbado, eu também. Depois disse: ‘Se você contar para alguém eu te mato, jogou bombas na minha casa’. E fui cada vez me colocando no armário, até que tive coragem de contar para minha família que eu era gay.”

No vídeo, o diretor dos documentários Coração Vagabundo (sobre Caetano Veloso), e Quebrando Tabu, (que discute a descriminalização das drogas) conta que quando revelou que era gay para a família, pegou todos de surpresa.

“Minha família reagiu assustada, com medo do que a vida iria reservar para mim, dizendo que eu escolhi um caminho mais difícil. E aí eu expliquei que a gente não escolhe nada. A gente simplesmente é. Aos poucos eles foram entendendo.”

Antes de encerrar o vídeo, Grostein deixa uma mensagem de apoio aos LGBTs, pedindo que assumam para si mesmas a orientação sexual que possuem.

“É muito bom você estar em paz. Vale a pena se assumir. Pode acreditar, pode confiar. É difícil no começo, mas passa. Depois você se aproxima da família, dos amigos, sua vida fica melhor, você encontra sua felicidade.”

Ao final, o cineasta de 36 anos cita a morte de um amigo conseguiu lidar com a questão e cometeu suicídio.

“Perdi um amigo assim. Eu sabia que era gay. Ele nunca se assumiu e um dia se matou. Toda vez que vejo uma foto dele fico com muita saudade e muita pena. Queria ter gravado esse vídeo muitos anos antes, e ter esse papo com ele muitos anos antes.”

Sexualidade especulada

Em julho do ano passado, a sexualidade de Fernando Grostein virou assunto nas redes sociais após uma nota publicada pelo jornalista Leo Dias, do jornal O Dia. O cineasta usou seu Instagram na época para um desabafo sobre o ocorrido. No post, ele criticou o jornalista Leo Dias, do jornal O Dia que, na época, noticiou que ele se assumido gay:

“A verdadeira notícia deveria ser: ‘em 2016 um jornalista acha que ser gay é notícia’. A conclusão veio talvez por causa dos meus inúmeros posts em apoio ao movimento LGBT. Por lógica, deveria ter dito que sou feminista, anti racismo, anti proibicionismo e um monte de outras coisas. E sim, eu sou tudo isso e já faz muitos anos que não escondo ser gay.”

O cineasta também ressaltou o apoio que tem da família e amigos, que lhe dá segurança para de ser simplesmente quem ele é.

Graças ao carinho da minha querida família e amigos, percebi que não tem porque esconder. Um dia quem sabe todos nós iremos nos orgulhar de simplesmente sermos ‘humanos’. Beijos.

?

Uma publicação compartilhada por Fernando Grostein Andrade (@grosteinandrade) em