Campanha faz crianças se desculparem por terrorismo

24/02/2015

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Dirigido por Abdelkarim El-Fassi, o vídeo acima faz parte da campanha holandesa #LetsUnite, que discute e contesta a “culpa por associação” que muitas pessoas têm enfrentado por simplesmente compartilharem a mesma origem étnica ou religiosa com terroristas. 

O filme mostra crianças sendo convencidas a se desculparem por serem parecidas ou terem alguma relação cultural com terroristas famosos por ataques recentes, como os autores do ataque ao Charlie Hebdo. “Você sabe quem tem um cabelo parecido com o seu, Yonas?”, pergunta a professora de antropologia,Anne de Jong, para a criança com cabelo loiro. “Breivik”, ela mesma responde, citando Anders Behring Breivik, norueguês de extrema direita e autor de um ataque terrorista que matou mais 68 jovens em um acampamento do partido Trabalhista da Noruega na ilha de Utoya, em 2011.

Outra criança, que usa uma simpática máscara do homem aranha escuta que ele se parece com os vilões que atacaram Paris e a Síria e que também são muçulmanos. Ao final os adultos explicam para as crianças: “Cabe a vocês provarem que as pessoas estão erradas”, explica sobre as semelhanças com os terroristas, antes de pedi-las para que se desculpem pelos atos condenáveis dos outros.

Conhecido por vídeos instigantes que lidam com as questões globais, El-Fassi explica ao The Independent que o vídeo polêmico busca fazer as pessoas pensarem sobre a cultura crescente dessa culpa por associação e sobre o impacto que isso pode causar em indivíduos ou grupos de pessoas na sociedade. E ao falar sobre a polêmica exposição das crianças afirma que nunca se sentiu tão desconfortável ao dirigir um filme. “Claro, é totalmente antiético e pedagogicamente irresponsável, mas ainda assim, como sociedade, nós temos agido dessa forma em um nível amplo. Temos feito com que certas comunidades tenham esse sentimento de culpa coletiva por anos.”, se explica.

“Isso tem que acabar caso contrário o problema irá crescer durante as próximas gerações. Eu não quero que meu sobrinho Hamza, que pode ser visto nesse filme, seja responsabilizados por questões que não têm nada a ver com ele. Não há justificação alguma para ele ser tratado de forma diferente de seus colegas brancos”, finaliza El-Fassi. Leia aqui sobre outras campanhas sobre questões globais produizdas por El-Fassi.

A campanha atualmente conta com a hashtag de apoio no Twitter #LetsUnite

Campanhas contra a culpa por associação.

Nos últimos meses, campanhas de solidariedade contra a culpa coletiva por associação após casos de terrorismo em diversos países têm tomado conta das redes sociais. Em dezembro de 2014, após o sequestro de 17 pessoas realizado por um refugiado iraniano dentro do Lindt Café, em Sydney, a australiana Tessa Kum criou uma campanha no Twitter com a hashtag #illRideWithYou. Receosa de que toda a comunidade islâmica na Austrália sofresse represálias da sociedade, a campanha convidava todos os australianos a compartilharem na rede social seu percurso diário para o trabalho e se oferecerem para caminhar pelas ruas ao lado de quem usa roupas tradicionais da religião.

illridewithyou

Outro exemplo ocorreu após o atentado que matou 12 funcionários da revista francesa Charlie Hebdo em janeiro de 2015. Muçulmanos por todo o mundo utilizaram as redes sociais com a hashtag #NotInMyName (“Não em meu nome”) para condenar o ato de violência e reforçar a ideia de que o radicalismo religioso não os representa.

nmn