Não se abstenha

24/04/2017

Um sujeito, do tipo que se encontram aos montes por aí (e em qualquer lugar do mundo, porque esta campanha é de Portugal), entra num boteco e destila comentários machistas, homofóbicos e racistas enquanto toma café. Tipos como ele estão cada vez com menos vergonha de destilar o ódio em público (ou nas redes sociais). Para piorar, estão conquistando o poder no voto.

A campanha do primeiro festival dedicado à política em Portugal quer combater um inimigo da democracia: a abstenção. O mote do filme não podia ser mais apropriado: “O mundo está cheio de pessoas assim”. A criação é da agência 004.

Nas eleições legislativas de 2015 a taxa de abstenção atingiu o máximo histórico em Portugal, desde que o país saiu da ditadura Salazar e voltou à democracia: 44,1%. Nas eleições presidenciais, mais de metade (51,3%) não foi às urnas. Para o Parlamento Europeu, há três anos, apenas um terço dos eleitores votou. O voto não é obrigatório no país.

Montagem em foto das primeiras eleições portuguesas após a redemocratização em 1974.

 

“Estes números refletem a apatia cívica nacional, e a consequente debilidade democrática do país – sem participação e envolvimento cívico a democracia é um mero formalismo. Portugal precisa de mais veículos e ferramentas de coesão, expressão e defesa dos interesses de todos os cidadãos, consolidados por uma sociedade civil forte que contribuirá, inevitavelmente, para influenciar a qualidade da democracia” diz o site do Festival Política. A iniciativa tem o apoio de várias empresas e das duas maiores emissoras de TV, a RTP e a Antena 1.

Em vários pontos de Lisboa foi distribuído o Jornal Festival Política. Com oito páginas, uma tiragem de cinco mil exemplares, a publicação divulga reflexões e números sobre o crescimento da abstenção em Portugal. O Festival Política se intitula “o elefante no meio da sala do debate político de um país repleto de eleitores desinteressados e políticos assustados com o pulsar da opinião pública”. A ideia é promover uma série de debates, workshops, filmes, arte, atividades para crianças e de uma campanha para trazer o tema para a discussão pública. Através do site, os portugueses foram convidados a enviar ideias para combater a abstenção. Estas propostas, a juntamente com as conclusões dos debates, serão entregues aos grupos parlamentares e partidos portugueses.