O sonho americano

30/01/2017

Uma propaganda pode mudar as perspectivas das coisas. Para o mal e, especialmente, para o bem. Esta campanha é daquelas que enchem o coração de esperança. Lançado na última quinta-feira (26), o primeiro filme da campanha da empresa de pagamentos pelo celular Square, de Jack Dorsey, fundador do Twitter, fica mais emocionante depois da decisão do presidente Donald Trump de revogar vistos e impedir a entrada no país de cidadãos de 7 países, além de suspender o ingresso de refugiados durante 120 dias.

“O ano passado foi duro para mim e a minha família. Às vezes eu não conseguia dormir quando via como estavam as coisas, pela mídia. Isso faz ter medo. Tipo, como vão ficar as coisas para a gente? Me deixa ainda mais assustado com relação ao meu negócio. Nós ainda somos bem-vindos aqui? Quando a minha filha nasceu. Eu a olhei e lembrei: ela nasceu aqui. Ela é uma americana. Então, neste momento, eu decidi ser forte”, conta Yassin Terou, proprietário da lanchonete Yassin Falafel em Knoxville, Tennessee.

O filme, produzido por Even/Odd como um documentário, conta a história de superação do refugiado Yassin, nos EUA desde 2011. A ideia era voltar para a Síria assim que as coisas melhorassem. O que nunca aconteceu. Após uma adaptação cheia de assombros pelas diferenças entre os dois países, ele se integrou à comunidade. “Meus amigos árabes têm medo de vir para cá. Me dizem ‘eles odeiam árabes, você não terá uma boa vida na América’. Você chega aqui sem nada. Nada. Zero. Não pode fazer dinheiro porque não tem permissão para trabalhar. Não falava inglês, não conhecia ninguém. A vida de um refugiado é muito dura”, explica Yassin. Começar não foi fácil, mas encontrou ajuda na mesquita. Ele queria trabalhar mas o que os outros árabes tinham para oferecer era solidariedade, comida e dinheiro. “Isso foi duro”, diz no filme.

O negócio de Yassin surgiu da inconformidade de viver apenas da caridade alheia. Foi assim que ele começou a vender seus sanduíches de falafel depois das orações. Durante dois anos, sem parar. Um dos fãs do sanduíche propôs sociedade e juntos criaram a Falafel Yassin em 2014. Para o refugiado sírio, ter um negócio é como enviar ao mundo uma mensagem, parecida com a que ele e o sócio pregaram na parede: para todas as crenças, todas as pessoas, de qualquer parte. “Meus clientes são meus amigos. Diferentes fé, cores, raças porque é para isso a Yassin Falafel”, reforça em uma das partes mais emocionantes do documentário. O pequeno negócio contrata refugiados como Yassin.

Para quem chegou até o minuto final do filme, estranha que a Square não tenha aparecido – embora intua que a Yassin Falafel use seus produtos. A estratégia criativa da marca não é apenas mostrar seu apoio aos pequenos empreendedores. Mas lançar uma espécie de compromisso social em manter vivo o ideal americano de “terra da oportunidade e da liberdade” em um momento que parece ter sido esquecido. “Yassin é um grande exemplo de proprietário de uma pequena empresa que encarna inspiração, esperança e confiança na criação de uma comunidade através de seus negócios”, disse ao AdFreak, o CMO da Square, Kevin Burke.