Na pele dos negros

02/03/2017

“Isso é muito gueto” – uma frase clichê bastante ouvida pelos profissionais negros.

Em fevereiro, os EUA celebram o Mês da História Negra (Black History Month) para marcar a contribuição dos negros à vida política e cultural dos Estados Unidos. Este ano, a agência de Havas de Chicago decidiu fazer algo que gerasse reflexão e provocasse um debate qualificado sobre  como é  ser negro no mercado de trabalho. As peças criadas para a campanha #BlackatWork foram complementadas por uma espécie de “pista de obstáculos” no lobby do prédio da agência.

“Você não fala como negro”. Sem comentários, né..

Cada obstáculo foi projetado para ensinar o resto da agência sobre o que um homem negro ou mulher pode experimentar no local de trabalho, além de iniciar uma conversa  sobre a falta de diversidade na indústria de publicidade. Eles vieram de experiências reais da equipe da Havas.

“Eu adoro ler esses artigos sobre como a indústria é branca e velha, e a própria indústria reconhece e fala sobre o problema versus realmente mudar e ativar o tipo de questões que temos”, disse Jason Peterson, diretor de criação da agência Havas à Adweek.”Do meu ponto de vista, a América é multicultural. Se você é uma agência que não tem um ponto de vista multicultural, não há nenhuma maneira que você pode fazer o seu trabalho corretamente.”

“Dica”: Não viaje, mas um passo errado pode mudar o modo como seus colegas de trabalho lhe vêem. Percepção está nos olhos de quem vê.

 

O primeiro obstáculo foi o “feixe de percepção”, uma espécie de linha de equilíbrio que os participantes tiveram que atravessar. Em um lado da linha, a agência imprimiu a palavra “raivoso.” No outro lado, imprimiu o “preguiçoso.” O objetivo do feixe é ilustrar alguns estereótipos (infelizmente) comuns no mercado de trabalho, segundo a agência.

Feixe de percepção.

O segundo obstáculo foram as “bolhas de discurso”, que mostram porque certas perguntas e comentários são inadequados. Exemplos incluem “Você pode me ensinar como rebolar?” ou “Isso é tão gueto”. A equipe pendurou os comentários e perguntas do teto, ensinando as pessoas a esquivar as palavras culturalmente insensíveis.

Um obstáculo semelhante,  aborda o peso que muitas pessoas negras sentem quando os colegas de trabalho lhes perguntam sobre a cultura negra, assumindo que uma pessoa sabe tudo, desde os últimos movimentos de dança até gírias ou tendências culturais.

Você pode me ensinar a rebolar?

A pista de obstáculos ficou disponível para o público. Um cartaz do lado de fora do prédio convidava as pessoas a entrar e participar do desafio.

Um pouco de História

Mesmo após a Guerra de Secessão, em 1865,  ter  abolido a escravidão nos EUA, os negros não estavam livres de sofrimento e humilhações.  A Lei Jim Crow, exigia que as instalações de escolas, transportes e outros locais públicos fossem separadas entre brancos e negros. Em 1926, Carter Woodson, um filho de ex-escravos que se tornou Ph.D na Universidade de Harvard, criou a Semana da História Negra com o objetivo de dar notoriedade às lutas dos negros contra a discriminação e a violência. No entanto, a melhoria da qualidade de vida e o fim da segregação vieram somente após a Lei de Direitos Civis, em 1964.

Em 1976, o presidente Gerald R. Ford criou um mês dedicado à identidade negra. O dia 1º de fevereiro, por sua vez, é o Dia Nacional da Liberdade, além de precursor do mês que fortalece o legado do povo negro. Fevereiro também marca o assassinato (21/2/1965) do ativista negro Malcom X.