Racismo na publicidade

01/12/2017
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Plataforma passa a régua no racismo publicitário

Publicado em 01/12/2017 por Adnews

O racismo velado, às vezes exercido de forma inconsciente, faz com que muitas pessoas acreditem não serem preconceituosas. Infelizmente, esse tipo de preconceito é tão forte que ele já está enraizado em nossa cultura e no mundo da publicidade a coisa não é diferente. O Brasil tem 54% de sua população negra ou parda, mas, mesmo assim, a representação deles nos comerciais é muito baixa – e quando ocorre, na maioria das vezes ela é feita de maneira estereotipada.

Inconformados com isso, quatro alunos da Escola CUCA, Pedro Ferreira, Bruno Luiz, Matheus Miguel e Caio Rodrigues criaram o hotsite e a tag #AddBlack. O projeto voltado para o mercado publicitário funciona como um acervo que reúne propagandas que não incluem negros, ou o fazem de forma muito escassa.

Como método de avaliação, uma régua que vai do branco ao preto foi inserida, assim, quanto mais “branco” o comercial for, mais próximo do branco total na régua ele estará. Para fazer essa análise, serão levados em conta os tons de pele e cabelo de cada pessoa, assim como características físicas de afro-descendentes. Isso também se aplica a suas características físicas.

Para entender mais sobre a ideia por trás do projeto, os métodos de análise e os desdobramentos da plataforma conversamos com Pedro Ferreira, um dos idealizadores. Confira abaixo o bate-papo:

Como surgiu a ideia?

Ela surgiu dentro da sala de aula, na Escola Cuca, em agosto. A proposta era criar um projeto que empoderasse alguma minoria. Dentre todas as propostas (meio ambiente, feminismo, LGBTQ, acessibilidade, etc), escolhemos trabalhar com racismo. O grupo é formado por 4 homens, 3 brancos e 1 negro (eu).

Quem a concebeu?

A concepção saiu da troca de ideias do grupo. Na verdade, levantamos muitas coisas legais, o que não faltam são projetos após esse aqui. Como tínhamos que escolher um, resolvemos investir neste.

Quais os comercias mais brancos que já viram?

Normalmente são os de marcas mais elitizadas, esses de produtos voltados às pessoas “brancas”. Geralmente o argumento é de que a maioria dos consumidores são brancos (sim, temos lido isso em comentários no Facebook).

Tem também aquele típico comercial de margarina com a família tradicional brasileira sempre branca, né.

Também existe o do Renault Kwid, lançado esse ano, que até pensamos em fazer uma brincadeira e colocar uma régua colorida junto da régua preta e branca, com o marcador no verde, mostrando que até o Hulk tem espaço nos comerciais, mas pessoas negras não.

E os com elenco mais negro?

Geralmente são os com produtos que o público alvo é considerado negro. Marcas de esporte e lifestyle usam bastante negros, como vemos na Puma, Adidas e Nike.

A maioria das propagandas são sempre na gringa. Apesar de que hoje em dia vemos um negro aqui ou ali sendo inserido num take ou outro.

Como tem sido a recepção?

A recepção tem sido muito boa. Ganhamos alguns elogios de pessoas grandes do mercado publicitário, além de alguns outros portais como Mídia Ninja, Ideia Fixa e Afro Space, que compartilharam nosso projeto.

É claro, os haters vão sempre existir. Vimos muitos comentários negativos pelas redes sociais também. Não sobre o projeto em si, o que é engraçado, por que é isso que divulgamos. Foram mais comentários de ódio, feito por pessoas brancas, aquele bem do estilo “o comercial é meu e coloco negro se quiser” em caixa alta e várias curtidas, relembrando a gente que o caminho pra essa mudança ainda vai ser longo.

Quais os próximos passos?

Fazer com que isso cresça, que vire um compilado, um “wikipedia” cheio de informações à favor da visibilidade da nossa causa, pra que sirva de prova para qualquer um que queria estudar, pesquisar ou usar como prova dessa realidade que vivemos. Não temos comerciais com negros no Brasil e temos a prova disso.