Relacionamento abusivo

11/04/2017

Marcos e Emilly, no BBB 17.

#EuViviUmRelacionamentoAbusivo esteve no topo dos assuntos mais comentados no Twitter. O gatilho foi a expulsão do o cirurgião plástico Marcos Härter do Big Brother Brasil (BBB 17) pelas agressões a outra participante e sua namorada no reality show, Emilly Araújo, de 20 anos. Ela não se sentia abusada – algo que não é incomum às vítimas, que costumam achar que são culpadas (provocaram ou merecem) ou têm dificuldade de identificar a agressão psicológica ou física que causam lesões leves (beliscões, empurrões, beijar ou abraçar à força).

A maior parte dos tweets contém relatos de abuso físico e psicológico. Muitas mulheres confessaram ter vivido situações parecidas com a Emilly.

https://twitter.com/palealien0/status/851638930323722242

https://twitter.com/alinepaivaap_/status/851701828265926656

https://twitter.com/sunaika_marina/status/851705709549031424

https://twitter.com/giovannamoreth/status/851707379922214913

Entenda o caso

A expulsão do médico Marcos foi comunicada ao vivo pelo apresentador Tiago Leifert às demais participantes do BBB 17, que se tornaram as três finalistas no programa. De acordo com o apresentador, a produção do programa ouviu especialistas, policiais e o público antes da decisão. A Polícia Civil do Rio de Janeiro abriu inquérito para apurar o caso e concluiu que houve violência. Dias antes, mesmo já tendo visto o comportamento abusivo do médico em relação à namorada, o público votou pela sua permanência na casa.

Ao saber da expulsão do então namorado, Emilly ficou impactada com a decisão e demonstrou preocupação. Chorou e até justificou as reações de Marcos. “Ele estava muito nervoso.” Como foi possível que o público e a própria Emilly não tivessem tomado uma atitude? A moça inclusive foi chamada pela produção sobre uma conversa antes do caso ir parar na Delegacia de Apoio à Mulher. Um médico da TV Globo constatou as lesões na moça.

A filosofa Márcia Tiburi explicou bem no seu artigo Entre a Cantada e a Covardia, publicada no site do Projeto Colabora. “Tanto o assédio moral quanto o assédio sexual (que não deixa de ter também uma dimensão moral) não se desenvolveriam tão facilmente se não acontecessem em um clima socialmente propício. Falamos ultimamente em cultura do estupro, mas a cultura do “assédio”, seja moral, seja sexual, é tão arraigada que permite o surgimento de posturas antiéticas tais como a dos apoiadores do assediador. A cultura do assédio constitui um círculo vicioso. Ela cria a permissão para que surja o assediador enquanto depende também de seu apoio. Não denunciar os casos de assédio produz uma conivência em relação à qual nem todos têm consciência.”, ecreveu.

No HuffPost Brasil, a jornalista Ana Beatriz Rosa apontou que muitas mulheres confundem a admiração que se tem pelo parceiro com uma autestima machucada, misturada à insegurança dos padrões que são fortalecidos por uma sociedade baseada moralmente e politicamente no machismo. Tudo isso não deixa que você enxergue a realidade do que está passando. Mas não se culpe. Isso está além de você e não necessariamente faz do seu abusador um monstro. Em nossa sociedade, as mulheres foram historicamentes criadas para servir. E isso reverbera de muitas formas nas dinâmicas sociais. Ela analisou os tweets das mulheres que contaram suas histórias com a #EuViviUmRelacionamentoAbusivo para mostrar os sinais do abuso que não são percebidos facilmente.