Relógios da violência

07/08/2017

Hoje é o aniversário de 11 anos da Lei Maria da Penha, que surgiu para aumentar o rigor das punições sobre crimes domésticos. O nome é uma homenagem a Maria da Penha Fernandes, vítima de violência doméstica durante 23 anos de casamento, sendo duas delas tentativa de assassinato, e militante incansável de busca pela punição aos agressores de mulheres. A campanha “Relógios da Violência” do Instituto Maria da Penha foi criada toda em ambiente digital.  O hotsite mostra em tempo real os vários tipos de agressões contra mulheres, para compartilhar no Facebook e Twitter com a #TánaHoraDeParar. A criação é da F.biz.

As informações e os números apresentados nos relógios da violência têm como referência a pesquisa Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, realizada entre os dias 11 e 17 de fevereiro de 2017 em 130 municípios, incluindo capitais e cidades do interior, em todas as regiões do país, e divulgada em 8 de março de 2017.

Para a realização da pesquisa foram ouvidas 2.073 pessoas – 1.051 mulheres, sendo que 833 aceitaram responder um módulo de autopreenchimento. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, para a amostra nacional, e de 3 pontos para a amostra de mulheres participantes do módulo de autopreenchimento. O hotsite também destaca informações importantes sobre como o ciclo da violência doméstica, como encontrar ajuda, os tipos de violência, entre outras.

Ciclos da violência

Apesar de a violência doméstica ter várias faces e especificidades, a psicóloga norte-americana Leonor Walker identificou que as agressões cometidas em um contexto conjugal ocorrem dentro de um ciclo que é constantemente repetido. Quando a vítima se cala diante da violência, o agressor não se sente responsabilizado pelos seus atos – isso sem contar o fato de que a sociedade já reforça o “direito” do homem de disciplinar e subjugar a mulher, ainda que usando da força física. Com o tempo, os intervalos entre uma fase e outra ficam menores, assim como as agressões passam a acontecer sem obedecer à ordem das fases. Em alguns casos, chega-se ao feminicídio, que é o assassinato da vítima.

É preciso quebrar esse ciclo.

Fase 01 – Aumento da tensão
Nesse primeiro momento, o agressor mostra-se tenso e irritado por coisas insignificantes, chegando a ter acessos de raiva. Ele também humilha a vítima, faz ameaças e destrói objetos. A mulher tenta acalmar o agressor, fica aflita e evita qualquer conduta que possa “provocá-lo”. As sensações são muitas: tristeza, angústia, ansiedade, medo e desilusão são apenas algumas. Em geral, a vítima tende a negar que isso está acontecendo com ela, esconde os fatos para as demais pessoas e, muitas vezes, acha que fez algo de errado para justificar o comportamento violento do agressor ou que “ele teve um dia ruim no trabalho”, por exemplo. Essa tensão pode durar dias ou anos, mas como ela aumenta cada vez mais, é muito provável que a situação levará à fase 2.

Fase 02 – Ato de violência
Esta fase corresponde à explosão do agressor, ou seja, a falta de controle chega ao limite e leva ao ato violento. Aqui, toda a tensão acumulada na fase 1 se materializa em violência verbal, física, psicológica, moral ou patrimonial. Mesmo tendo consciência de que o agressor está fora de controle e tem um poder destrutivo grande em relação à sua vida, o sentimento da mulher é de paralisia e impossibilidade de reação. Aqui, ela sofre de uma tensão psicológica severa (insônia, perda de peso, fadiga constante, ansiedade) e sente medo, ódio, solidão, pena de si mesma, vergonha, confusão e dor. Nesse momento, ela também pode tomar decisões, como buscar ajuda, denunciar, esconder-se na casa de amigos e parentes, pedir a separação e até mesmo suicidar-se. Geralmente, há um distanciamento do agressor.

Fase 03 – Arrependimento e comportamento carinhoso
Também conhecida como “lua de mel”, essa fase se caracteriza pelo arrependimento do agressor, que se torna amável para conseguir a reconciliação. Há um período relativamente calmo, em que a mulher se sente feliz por constatar os esforços e as mudanças de atitude, lembrando também os momentos bons que tiveram juntos. Como há a demonstração de remorso, ela se sente responsável por ele, o que estreita a relação de dependência entre vítima e agressor.