22/03/2016

Autoestima

Por que não existem princesas negras? Por que precisamos de princesas?

Sobre princesas e meninas

22/03/2016

Sobre princesas e meninas

“Vó, por que não existem princesas negras?”, pergunta Gisele. A Fábula de Vó Ita traz uma série de indagações despertas no primeiro contato da menina com o racismo, na escola, por causa do cabelo crespo. A avó sensível trabalha a autoestima da neta criando uma fábula. O curta venceu o edital Carmem Santos Cinema de Mulheres, destinado a obras de cineastas mulheres. Além das diretoras Joyce Prado e Thallita Oshiro – que também assina o roteiro –, direções de arte, fotografia, som e até as ilustrações do filme são de responsabilidade de mulheres.

A verba recebida no edital, de R$30 mil, no entanto, não foi suficiente para realizar o curta da maneira planejada. Toda parte da fábula é feita em animação, misturando aspectos de bordado e pintura, o que elevou os custos. O curta, finalizado graças ao site de crowdfunding Catarse, será exibido pela primeira vez neste final de semana no CCBB de Brasília. É a primeira investida no cinema da Oxalá Produções.

Na história criada pela avó, a Ita, a personagem principal se chama Gisa. É uma menina negra, isolada em um reino onde ninguém se parece com ela. Cansada de sofrer discriminação, ela procura uma bruxa para modificar seu visual, mas é justamente por causa de seus cabelos – que se alteram conforme suas emoções – que ela é reconhecida por sua mãe, a rainha Andrea, que há anos procurava a filha perdida.

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Apesar de ficcional, o enredo do filme de Joyce Prado e Thallita Oshiro remete à realidade de muitas crianças negras no Brasil. Uma das próprias criadoras, Joyce, 28, viveu episódios semelhantes na infância. “Quando estava, no pré [pré-escola], o termo era ‘macaca’”, contou  Joyce ao site CEERT. “Infelizmente temos que ensinar para crianças de 5 anos que elas não têm que se importar com a visão de seus colegas de classe. Não deveria ser assim”.

A diretora contou que Tekka Flor, a atriz mirim de 8 anos que vive a protagonista Gisele, se identificou fortemente com o personagem. “Tem uma frase da Gisele que é ‘mas, vó, não tem princesa assim[negra]’. Perguntei para a Tekka o que ela pensava quando dizia isso, ela falou: Eu sei que eu sou uma princesa, mas todos querem dizer que não sou, e começou a chorar”, revelou Joyce.

Outro caso marcante que a diretora contou ao site CEERT, envolveu a filha de Gabee Conceição, que interpreta a mãe de Gisele. “A filha da Gabee chegou um dia em casa dizendo que não queria mais ser negra. Com 4 anos, ela sentia uma falta muito grande de se ver representada, de não ver uma princesa negra nas histórias. A mãe falou da Tiana, da Princesa e o Sapo, mas a filha lembrou que a Tiana não era uma princesa, era uma mulher que tinha casado com um príncipe. A princesa que vendiam pra ela não era uma princesa de verdade. Quando ela viu a mãe vestida no teste de figurino, saiu contando na escola que a mãe era uma rainha negra.”

Aula de “desprincesamento”

Princess Kissing a Frog

Princess Kissing a Frog

O Chile tem uma das taxas mais baixas de participação feminina no mercado de trabalho no mundo. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatísticas do país, entre novembro de 2014 e janeiro de 2015, apenas 48,3% das mulheres estava trabalhando ou em busca de emprego. Em contrapartida a participação masculina no mercado de trabalho é de 72%. Para incentivar o empoderamento das meninas logo cedo, o Escritório de Proteção de Direitos da Infância da cidade de Iquiaque, no norte do país, resolveu inovar: criou um seminário de “desprincesamento”.

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O público-alvo são as meninas entre 9 e 15 anos da idade. De acordo com o coordenador do Escritório de Proteção de Direitos da Infância do município, Yury Bustamante, no seminário de desprincesamento as meninas são incentivadas a se desvincular da ideia que precisam de um homem ao seu lado – o príncipe – para serem felizes.  As atividades acontecem na Casa de Cultura da cidade. São seis módulos compostos de debates, aulas de defesa pessoal, cantorias e atividades manuais. Tudo com o objetivo de que as meninas reflitam sobre o conceito de ser mulher, beleza e felicidade.

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Para a imprensa, o coordenador Bustamante disse que deseja “abrir espaços de discussão com as meninas sobre desigualdade de gênero, mas com elementos que elas possam identificar, para que elas tenham uma oportunidade de incorporar outros elementos na construção de sua identidade como meninas”. As 20 vagas disponibilizadas foram preenchidas rapidamente e já há demanda para que o seminário tenha novas edições ao longo do ano. Com informações do Huffigton Post.