Parece inofensivo mas te conquistou
O cultivo começa em imensas áreas rurais do Brasil e do exterior. Para plantar é simples: basta um pouco de terra, um bocado de sol e a plantinha desanda a crescer. Seu uso é milenar e não se sabe precisamente quando começou. Tem pra todos os gostos. Seu uso já foi considerado um problema de saúde em alguns países, mas também já carregou a fama de iguaria muito apreciada pelas elites europeias.
E aí, sabe de qual droga estamos falando?
Ele chega até você. Pode se apaixonar por seu aroma e sabor. Senta, prepara a mesa e usa. Te deixa ligado, acordado, você perde o sono. Logo vai querer mais. Talvez em maiores quantidades. Quando se dá conta, pode não conseguir mais fazer suas atividades diárias sem usar. Compra, estoca e guarda em lugares especialmente preparados para conservar sua qualidade. Alguns dias sem usar e você já não é o mesmo, sua cabeça dói e sua concentração vai lá pra baixo. Você sente náuseas, sonolência e fadiga. Hora de usar mais.
Estamos falando de uma das substâncias com o maior número de consumidores do planeta: a cafeína.
Presente no café (que tem até um Dia Internacional -14 de abril), a cafeína age como estimulante cardíaco e diurético, capaz de causar dependência física e psicológica, atuando de maneira bem semelhante às anfetaminas e à cocaína, mas com um grau de intensidade bem menor.
Estima-se que a maioria da população brasileira adulta consome uma dose diária igual ou superior a 300 mg de cafeína. Se você acha que isso é pouco, confira alguns dos seus efeitos:
- Bloqueio da recepção de adenosina, impedindo a sensação de sono a curto prazo.
- Estímulo da produção de adrenalina, aumentando o metabolismo e dando mais disposição.
- Aumento da concentração de dopamina no sangue, dando a sensação de bem-estar
Não é cocaína, nem perto disso, mas pode tirar seu sono por muito tempo.
A cafeína provoca alterações no seu organismo, elas não são tão graves nem tão drásticas como aquelas provocados por outras drogas ilícitas, mas ainda assim estão lá. A recepção da adenosina (responsável pelo controle energético do corpo) é muito importante para manter o sono em dia, então, com seu bloqueio pela cafeína, você pode, a longo prazo, apresentar grandes dificuldades para ter uma noite tranquila e com sono profundo. Ou seja, se exagerar no café por muito tempo, pode ligar o Netflix se preparar pra longas noites de insônia.
Abstinência: por essa você não esperava.
A cafeína, por ser uma substância que causa dependência, também pode causar abstinência e até overdose (em altas concentrações, como as presentes em energéticos). Como consta no “Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais” da Associação Americana de Psiquiatria:
“O aspecto essencial é uma síndrome característica de abstinência devido à cessação ou redução abrupta no uso de produtos contendo cafeína após um uso diário prolongado. A síndrome inclui cefaléia e pelo menos um dos seguintes sintomas: acentuada fadiga e sonolência, acentuada ansiedade ou depressão, náusea ou vômitos. Esses sintomas parecem ser mais prevalentes em indivíduos com uso pesado (500mg/dia), mas podem ocorrer em indivíduos com uso leve (100mg/dia). Os sintomas podem causar sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. Os sintomas não devem ser decorrentes dos efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica geral, nem devem ser melhor explicados por outro transtorno mental.”
Em outras palavras: cafeína não é moleza. As tentativas de reduzir ou cessar o uso da substância geram desconfortos, os primeiros sintomas iniciam após 12h da última ingestão e podem perdurar por até uma semana. Claro que o maior problema está na cafeína sintetizada, presente nos energéticos, por exemplo. Alguns deles são:
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dor de cabeça
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indisposição
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dificuldade de manter a atenção
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alteração de humor (geralmente irritabilidade)
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sonolência e fadiga
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constipação
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náusea
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forte anseio por cafeína e em alguns casos alucinação olfativa de café, vômitos e febre
Mas nem tudo está perdido: tomar um cafezinho com moderação faz um bem danado
O café, além de muito conhecido por seus aromas e sabores inigualáveis, também é famoso por suas propriedades nutritivas. Alguns importantes minerais e nutrientes estão presentes no café, tais como a tiamina, Niacina, Ácido fólico, Fósforo, Magnésio, Manganês, além do potássio e riboflavina. Verificou-se que o café contém cerca de 1.000 tipos de compostos químicos e é uma fonte de antioxidantes. Também existe a versão descafeinado, que praticamente não altera o sabor.
Não se esqueça: café faz bem para sua memória.
Durante anos, pesquisas demonstraram a eficiência da cafeína na prevenção de demência e Alzheimer em pessoas idosas. Por bloquear a adenosina (aquela substância que regula a energia no corpo), seus efeitos inibidores ajudam a aumentar a eficiência neural do cérebro por meio da liberação de neurotransmissores como a dopamina e a norepinefrina, que ajudam também a melhorar o humor e aliviar o stress.
É droga mas tá liberado, como assim?
Você deve ter notado várias semelhanças entre o café e algumas drogas ilícitas, não? Apesar disso, ele está aí, incrustado na sociedade, ganhando até dia internacional. Isso tem a ver com o encantamento das elites europeias pela bebida lá nos séculos XVIII e XIX (se tem algo que a história nos ensinou, é que, se as elites gostam de alguma coisa, essa coisa vai pra frente).
O fato é que a cafeína pode ser uma substância que prejudica a saúde e é uma droga, mas nem por isso é proibida. Na verdade, é consumida por autoridades no mundo todo.
Faz pensar sobre o que é droga, e porque algumas são lícitas e outras não – no Brasil, quem decide isso é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), confira a legislação em vigor, atualizada este mês. Além dos aspectos legais, vale refletir sobre porque algumas substâncias são socialmente aceitas – álcool, cafeína – e outras não. Enquanto isso, milhares de pessoas continuam se tornando novas vítimas da guerra às drogas (caímos na guerra às drogas de novo, né? leia mais sobre isso aqui e aqui).
Pra fechar, te damos um dado: o café quase foi proibido por quase 5 vezes na história.
E aí, deu vontade de tomar um cafézinho? Vai fundo!
Ah, enquanto saboreia seu pingado, média ou capuccino, pense um minutinho nas sua definição de drogas e deixe seu comentário. Aqui tem um ótimo texto produzido pelo Hospital Israelita Albert Einstein.