01/05/2016

Intolerância

Ser gay fica mais fácil com a idade.

Experiência e maturidade

01/05/2016

Ser gay fica mais fácil com a idade

 

Publicado no Estadão em 01 de maio de 2016.

JAIRO BOUER

Gays e bissexuais com menos de 26 anos têm seis vezes mais chance de cometer suicídio ou praticar comportamento autoagressivo do que homens com mais de 45 anos com a mesma orientação. Além disso, o risco de enfrentar depressão e ansiedade é duas vezes maior entre eles. Os dados são de uma pesquisa que avaliou quase 6 mil homens no Reino Unido.

O trabalho, feito pela prestigiada London School of Hygiene and Tropical Medicine, foi o primeiro do tipo a observar as diferenças de saúde mental não entre heterossexuais e homossexuais, mas as variações existentes dentro de uma população exclusivamente gay, que sabidamente é mais vulnerável a questões emocionais. Pelos dados do estudo, envelhecer parece fazer bem para as emoções desses homens. Os pesquisadores acreditam que a experiência e a maturidade tornem mais fácil lidar com questões como diferença, preconceito e homofobia.

Além da idade, ter um melhor nível de renda e de educação e morar em uma cidade em que a diversidade sexual é mais aceita parecem ser outros fatores de proteção. Homens com um parceiro fixo têm 50% menos chance de enfrentar uma depressão.

Já gays e bissexuais negros enfrentam duas vezes mais chance de depressão e cinco vezes maior risco de suicídio do que a maioria branca. Para os pesquisadores, os resultados espelham o que já acontece na população como um todo. Assim, mesmo nas minorias, fatores econômicos, sociais, educacionais e raciais parecem ter impacto semelhante ao de outros segmentos da sociedade.

Do ponto de vista da prevenção, os resultados são muito importantes. Eles ajudam a pensar em estratégias e políticas públicas que atendam às demandas dos mais vulneráveis. Não à toa, as taxas de depressão, suicídio e novas infecções pelo HIV dentro da população gay e bissexual jovem preocupam especialistas. Entre os mais novos, que fazem parte dos grupos menos favorecidos socialmente, essa atenção parece ser ainda mais crítica.

Na mesma semana em que o trabalho foi publicado no periódico Journal of Public Health e divulgado pelo jornal inglês Daily Mail, o Ministério da Saúde anunciou por aqui o lançamento da campanha Cuidar bem da saúde de cada um. Faz bem para todos. Faz bem para o Brasil, que busca conscientizar a sociedade e os gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) sobre a importância da atenção à saúde dos homens que fazem sexo com outros homens (HSH).

Não é escolha! Outro estudo sobre orientação sexual, também divulgado na semana passada, fez uma revisão extensiva de centenas de trabalhos publicados sobre o assunto nos últimos anos. Talvez uma das conclusões mais importantes, que pode ajudar a combater preconceitos e discriminações, é justamente o conceito de que ser gay ou bissexual não é uma escolha. O desejo é resultado de uma interação complexa (e ainda pouco conhecida) de fatores biológicos e sociais.

Genes e influências ambientais têm papel na definição da homossexualidade, que é uma das possibilidades do comportamento sexual, assim como a heterossexualidade.

Discutir o tema abertamente, educar para a diversidade, reduzir a homofobia e garantir os direitos e a visibilidade não são medidas que aumentam o número de gays e bissexuais. Essa é mais uma das bobagens apregoadas por conservadores. Pelo contrário, elas podem melhorar a vida, as emoções e a saúde mental das pessoas com essa orientação sexual, sobretudo dos mais jovens. As conclusões foram publicadas no periódico Psychological Science in the Public Interest.