Flores não desculpam

15/05/2018

Carmen não conseguiu escapar do mau humor do marido. O pior é que ele mandou o maior buquê para se desculpar.

O namorado de Alicia a chamou de vadia porque ela estava vestindo uma minissaia. No dia seguinte, mandou flores para seu local de trabalho.

Quando Valentina deixou seu ex, ele a espancou. Para tentar reconquistá-la, lhe enviou suas flores favoritas, camélias.

Marina havia deixado de lado as pancadas que o marido lhe dava durante vinte anos. Foram vinte anos recebendo rosas como pedidos de desculpas.

Ana se sentiu culpada porque seu parceiro era ciumento. Depois de bater nela, ele lhe comprava margaridas.

A campanha da Associação Espanhola de Floristas (AEFI), criada pela Y&R de Madri, mostra as marcas em mulheres vítimas de violência cercadas por arranjos florais. O slogan diz “Nossas flores não pretendem pedir desculpas”. Distribuído em inglês, a série de anúncios não está nas redes sociais nem no site da Associação e provavelmente mira na temporada de festivais internacionais de publicidade, como Cannes.

Violência doméstica na Espanha

Milhares de pessoas protestaram neste domingo (29.abr.2018) nas ruas da cidade de Pamplona, na Espanha. Foi o 3º dia de manifestações. Liderados por coletivos feministas, os atos questionam a sentença do estupro coletivo pelo grupo que se autodenominava “La Manada”. Cinco homens estupraram uma mulher e foram condenados pelo crime de abuso sexual.

Só neste domingo cerca de 32 mil pessoas estavam nas ruas para pedir a revisão o caso registrado em 2016. A sentença saiu na última 5ª feira (26.abr). Quatro integrantes do grupo estupraram a jovem de 18 anos enquanto 1 filmava. O celular da vítima foi confiscado pelos acusados “para que ela não pedisse ajuda”. Os homens vangloriavam-se do ato em 1 grupo de Whatsapp que deu o nome ao caso, no entanto as mensagens que eles trocavam não foram aceitas pelo juiz como provas. Apesar de terem sido condenador por abuso sexual, os 5 homens foram absolvidos das acusações de violência e intimidação. Foi o que gerou revolta na população. O juiz responsável pelo caso, José Francisco Cobo, interpretou o evento como 1 episódio de sexo consensual e, por, proferiu sentença mais branda.

No próprio dia em que se conheceu a sentença, dezenas de localidades espanholas – entre as quais Pamplona, Madrid, Barcelona, Valência, Saragoça, Granada, Vigo, Bilbau ou Sevilha – e algumas cidades europeus – com Berlim (Alemanha), Bruxelas (Bélgica) e Londres (Reino Unido) à cabeça – foram palcos de extraordinários e audíveis protestos contra a interpretação dos magistrados sobre o caso, inaugurando um movimento que já é entendido como o Me too espanhol.

Promovido pela jornalista Cristina Fallarás, tem como objectivo incentivar as mulheres espanholas, e não só, a tornarem públicas as suas experiências pessoais de abusos e agressões sexuais, como forma de combate à violência machista e à cultura de violação generalizada.Entre as centenas de mulheres que têm vindo a público divulgar as suas histórias acompanhadas pelas hashtags #Cuéntalo, #YoSiTeCreo (Eu sim acredito em ti) e #NoEsNo (Não é não), contam-se algumas caras conhecidas da arena política espanhola.

Como Isabel Lozano – responsável pelo pelouro da Igualdade e Políticas Inclusivas do ayuntamiento de Valência – que revelou ter sofrido abusos sexuais do seu professor de karatê, aos dez anos, ou Dulce Xerach – antiga deputada pela Coligação Canária e ex-vice-conselheira do governo autônomo das Canárias – que diz ter sido abusada sexualmente por um dirigente político.