20/07/2016

Também é cultura

Sete músicas de funk feitas para denunciar problemas sociais

Funk consciente

20/07/2016

 

Mc Carol, um dos maiores nomes do funk atualmente

Mc Carol, um dos maiores nomes do funk atualmente

Publicado por Ondda, em 18/07/2016

O funk é um gênero musical que causa muita polêmica. As músicas geralmente têm conotação sexual pesada, violência e machismo. Mas nem sempre isso acontece. Alguns artistas usam o funk para criar letras e músicas que nos fazem pensar e refletir sobre problemas sociais da atualidade.

Normalmente, o gênero musical periférico que discute pautas sociais é o Rap, mas cada vez mais pessoas do Funk estão aderindo a certas causas e incorporando-as em suas letras. Cantoras como Mc Carol e Valesca Popozuda estão usando o gênero para discutir feminismo, racismo, hierarquia social, violência policial e outros problemas sofridos pelas minorias. Confira alguns funks ativistas:

  1. Rap da Felicidade – Cidinho e Doca

Apesar do nome da música levar o nome “rap”, o gênero é Funk. A maior parte das pessoas já escutou essa música e, quando ela toca, muitos cantam juntos. Ela fez grande sucesso e traz uma mensagem sobre a diferença social no Brasil:

“Minha cara autoridade, eu já não sei o que fazer

Com tanta violência eu sinto medo de viver

Pois moro na favela e sou muito desrespeitado

A tristeza e alegria aqui caminham lado a lado

Eu faço uma oração para uma santa protetora

Mas sou interrompido à tiros de metralhadora

Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela

O pobre é humilhado, esculachado na favela

Já não aguento mais essa onda de violência

Só peço a autoridade um pouco mais de competência”

  1. Não Foi Cabral – Mc Carol

Mc Carol é uma cantora de Niterói – RJ que faz várias letras denunciando problemas sociais. Uma delas, muito famosa, é ‘Não Foi Cabral’. A música começa com o instrumental do hino brasileiro e logo que começa a batida, a artista já lança uma polêmica. Ela afirma que Pedro Álvares Cabral não descobriu o Brasil. E ela vai além, denunciando o genocídio índio que os portugueses fizeram e também a época de escravidão no Brasil.

“Treze Caravelas

Trouxe muita morte

Um milhão de índio

Morreu de tuberculose

Falando de sofrimento

Dos tupis e guaranis

Lembrei do guerreiro

Quilombo Zumbi

Zumbi dos Palmares

Vitima de uma emboscada

Se não fosse a Dandara

Eu levava chicotada”

https://youtu.be/poQFPGJ3EME

  1. Ai Como Eu To Bandida dois – Mc Mayara

Mc Mayara é uma funkeira curitibana de 22 anos que decidiu abraçar a causa feminista e o empoderamento da mulher em espaços que lidam com grande conotação sexual. Ela decidiu mostrar que mulher também pode falar sobre sexo e que não tem nada de negativo em ser “piranha” (afinal, se homens podem ser “pegadores”, mulheres também podem).

A música dela “Ai Como Eu To Bandida” fez muito sucesso, mas, quando gravou o clipe, muitas pessoas criticaram o fato de que a virilha dela estava muito marcada na calça, deixando uma “pata de camelo”. A cantora não teve dúvida: lançou outro vídeo e, dessa vez, fez questão de deixar a pata de camelo em evidência.

“Livre,leve,solta

Feliz e curtindo a vida

Ai como eu tô bandida

Saia, topzinho, E um copinho de bebida

Ai como eu tô bandida”

https://youtu.be/3FcoUHVDRqY

  1. Tá Pra Nascer Homem Que Vai Mandar Em Mim – Valesca Popozuda

Ex-Gaiola das popozudas, Valesca decidiu dar uma de Beyoncé e deixar o grupo para tentar carreira solo. A cantora sempre foi muito vocal sobre liberdade sexual e, depois de um tempo, decidiu abraçar a causa feminista também. Suas letras sempre exaltaram a mulher e sua sexualidade e, agora, além disso, Valesca também fala sobre o movimento feminista com as pessoas, com a mídia e com os fãs. Muitos de seus hits são ótimos para um começo de empoderamento feminino, como “My Pussy É o Poder”, música da época da Gaiola.

A canção Tá Pra Nascer Homem Que Vai Mandar Em Mim é uma das mais icônicas de independência feminina que a cantora tem.

“Tá pra nascer homem que vai mandar em mim

Tá pra nascer alguém que vai me esculachar

Tá pra nascer, e eu já falei pra tu

Se ficar me enchendo o saco, mando tomar”

  1. Fiscal – Mc Queer

O mundo do funk, além de ser machista, também costuma ser extremamente homofóbico. Isso faz com que não seja um espaço seguro para a população LGBT, mas esse quadro está começando a mudar. O Mc Queer mostra desde o seu nome que está aqui para inserir a comunidade LGBT no cenário do Funk. Queer é uma denominação em inglês que significa “não-heterossexual”, em termos mais brandos.

“Se eu apanho na paulista imagina na ruela

Não cai na real, mas tá de pé do lado dela

Liga o grindr na igreja

E aí, firmeza?

Não vai ter pra tu aqui

Se joga na pista e reza pra dançar com Mc Queer”

  1. Desabafo – Mc Xuxu

Assim como o Mc Queer, a Mc Xuxu se mostra como uma representação LGBT no mundo do Funk. Xuxu é uma artista transexual e se orgulha disso. Ela mostra que as pessoas trans podem sim serem inseridas em todos os espaços da sociedade, inclusive em espaços que são cheios de transfobia.

Sua música “Desabafo” conta um pouco sobre como ela se sente quando entra em contato com pessoas homo e transfóbicas.

“Com tanta coisa pra se preocupar

Tem gente perdendo o tempo

Querendo cuidar e mandar na minha vida

Testando a minha fé, subestimando o quanto eu sou forte

Deus nos pediu o amor,

Sei que te amo, mas não sou amada,

Te vejo como um ser humano

Enquanto você me vê como nada

Eu sei que ele olha por mim,

E esse dom ele me concedeu

Hoje eu sou mc, sou travesti, mas sou filha de deus”

  1. Encostei no Baile Funk – Mc Garden

O cantor Mc Garden é um funkeiro diferente. Ele não faz músicas sobre pegação e ostentação, muito pelo contrário. Todas as suas músicas têm a ver com alguma questão da atualidade. As suas letras abordam problemas políticos e sociais. “Encostei no Baile Funk” é quase como um meta-funk, que usa o gênero para criticá-lo. O artista usa sua música para trazer uma questão aos ouvintes do gênero: Por que muitos estão agindo do jeito inconsequente que agem?

“Encostei ali num baile funk
E fui vendo uns ‘bang’ que não era bom

É que eu vi os moleques de 13 com a cara de sono
E a latinha na mão

E essa lata já tava amassada
Em vez de refri tinha lança perfume

É o perfil do moleque que o pai fugiu da responsa
E a mãe não assume

E o dj não tinha consciência, nem experiência
Só fez piorar

Tocou logo um funk que dizia
Quem não baforasse não ia transar”