Picolés que ninguém quer

19/06/2017

É bonito mas você não vai querer experimentar nenhum dos sabores destes picolés feitos com água natural de rios, lagos, praias e portos de Taiwan. Sem aditivos e filtros, mostram com detalhes a quantidade de contaminação da água.

Três estudantes de design da Universidade Nacional de Taiwan das artes criaram 100 picolés de água poluídas dos lagos, rios, praias e portos do país para aumentar a conscientização sobre o problema da poluição.   

A água foi retirada de 100 fontes de água diferentes em Taiwan, congeladas e transformada em picolés tóxicos pelos estudantes Hung I-chen, Guo Yi-hui e Cheng Yu-ti, da Universidade Nacional de Taiwan. Eles os  recriaram  usando resina de poliéster transparente. Além de embalagens chamativas com as informações sobre o local de onde a água foi coletada e os principais tipos de microorganismos e poluentes encontrados.  A maior parte do lixo (90%)  era de plástico –  tampas , sacolas,  garrafas e embalagens.

Os “sabores” dos picolés revelam a maior parte de seus ingredientes “naturais”:  plástico, metal, arsênico, mercúrio e outros materiais nocivos.

Muitos problemas no Brasil

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), no Brasil se gasta cerca de cinco vezes mais água do que o necessário. Nosso consumo é de aproximadamente 200 litros por dia por pessoa, sendo que a OMS recomenda gastos de 40 litros por dia por pessoa. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), se o padrão de consumo e poluição não mudarem, em 2025, cerca de 2 bilhões de pessoas estarão vivendo em regiões de absoluta escassez. Com a falta de água, áreas como a saúde e a economia certamente serão afetadas. A falta de água potável e própria para o consumo poderá causar diversas enfermidades

Além de garrafas PET, sacolas e embalagens de alimentos, entre outros objetos, os ambientes marinhos e de água doce em todo o mundo têm sido contaminados com minúsculos detritos, conhecidos como microplásticos, com tamanho menor que 5 milímetros, como fibras e pequenos resíduos gerados pela fragmentação de grandes pedaços de plástico.

Um grupo de pesquisadores do Departamento de Ciências do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) constatou que esses microplásticos também estão presentes em larga escala em praias e rios no Brasil.

Os pesquisadores também observaram que algumas espécies de peixes de água doce e de pequenos organismos marinhos ingerem frequentemente esses microplásticos, e que os contaminantes liberados por esses poluentes causam efeitos tóxicos para espécies de moluscos, como os mexilhões marrons (Perna perna).

Ameaça na Mata Atlântica

Dos 240 pontos de coleta de água distribuídos em 184 rios, córregos e lagos de bacias hidrográficas da Mata Atlântica, apenas 2,5% têm qualidade boa. Os dados são do estudo “Observando os Rios 2017”, da Fundação SOS Mata Atlântica, sobre a qualidade da água nas bacias do bioma. O levantamento foi realizado, entre março de 2016 e fevereiro de 2017, em 73 municípios de 11 estados da Mata Atlântica – Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo – além do Distrito Federal, com base nas coletas e análises mensais realizadas por 194 grupos de voluntários do programa “Observando os Rios”, por meio do qual a ONG capacita a população para o monitoramento da qualidade da água.