Pornô e suicídio

08/11/2017

O chocante vídeo da polícia sul-coreana contra pornô feito com ‘câmera escondida’

Peça quer combater a prática disseminada entre coreanos de filmar partes íntimas de mulheres sem autorização.

Há centenas de crimes sexuais envolvendo câmeras escondidas todos os anos. Autores de vídeos com câmeras escondidas podem ser condenadas a até cinco anos de prisão, mas o risco de punição não parece ter diminuído a frequência do crime.

Diante disso, a polícia sul-coreana decidiu apelar para uma nova estratégia. Agora, pessoas que procurem por vídeos do tipo na internet podem acabar levando um susto. Isso porque os investigadores distribuíram pela internet peças que, embora sugiram se tratar de vídeos roubados, revelam, ao final, imagens de terror.

Sobre a cena que imita uma jovem enforcada, um texto diz: “Você pode ser a pessoa que a está levandoa cometer suicídio” e informa que a polícia está monitorando o site.

Esses vídeos são falsos: foram produzidos pela polícia e enviados para sites de compartilhamento de arquivos. As produções já foram baixadas dezenas de milhares de vezes por usuários desavisados.

A polícia espera que a “terapia de choque” ajude a inibir a visualização desse material.

Caçadoras de câmeras

Seul, Coreia do Sul. Park Kwang-Mi revisa com um detector de metais os cantos dos banheiros femininos sul-coreanos. Papel higiênico, trincos das portas e grades de ventilação – tudo é submetido a exames. “Meu trabalho é garantir que nenhuma câmera filme as mulheres quando elas se aliviam”, conta Park, 49, enquanto inspeciona os banheiros de um museu na capital Seul. “É estranho, mas há pessoas que querem ver isso”, diz, acrescentando: “Mas é necessário que as mulheres se sintam seguras”.

Park pertence à equipe inteiramente feminina de caçadoras de câmeras ocultas de Seul, que luta contra a molka, a pornografia por meio de câmeras escondidas. Com conexões super-rápidas e telefones celulares de última geração, a Coreia do Sul se orgulha de estar entre os países mais desenvolvidos em tecnologia, além de ter a banda larga mais rápida do mundo.

Cerca de 90% dos 50 milhões de habitantes têm um smartphone, o que representa a taxa mais alta do mundo. Mas nessa sociedade patriarcal, não exatamente conhecida por defender os direitos das mulheres, nasceu um exército de voyeurs amantes da tecnologia.

Muitos se valem de aplicativos especiais para olhar por baixo das saias das mulheres sentadas nas suas mesas de trabalho, ou nas escadas do metrô. Câmeras de espionagem filmam o interior dos banheiros públicos e dos provadores de lojas. Essas imagens podem ser encontradas em vários sites especializados na molka usando a mais simples das ferramentas de busca na internet.

Câmera barulhenta. Essas práticas são tão generalizadas que, para lutar contra esses abusos, os fabricantes de smartphones sul-coreanos são obrigados a adicionar som às câmeras dos seus dispositivos para que eles façam barulho quando tiram fotografias. Não passa um dia sem que os meios de comunicação falem sobre os delitos molka.

Seus autores provêm de todas as camadas sociais. Segundo estatísticas da polícia, a quantidade de crimes desse tipo passou de 1.100, em 2010, para mais de 6.600, em 2014.

Criada em 1987 para lutar contra os batedores de carteiras, a unidade policial que se ocupa especialmente da rede de metrô, uma brigada de 80 homens, atualmente dedica quase todo o seu tempo ao combate “antimolka”. A maioria dos homens que são abordados no metrô têm entre 20 e 30 anos e ensino superior. Podem ter de pagar multas de até 10 milhões de wons sul-coreanos ( 8.000) ou serem condenados a até cinco anos de prisão.

Para lutar contra os casos de molka, a polícia oferece recompensas a quem os denuncie, e a municipalidade de Seul recrutou dezenas de mulheres para desmascararem as câmeras escondidas.

Lee Hae-Kyung, 38, e que trabalha em um escritório, conta que quando um homem sobe atrás dela nas escadas, costuma se virar levemente e olhá-lo nos olhos, o que considera uma técnica eficaz para dissuadir os voyeurs.

Para Lee Na-Yong, socióloga da Universidade de Hanyang, em Seul, a solução passa obrigatoriamente pela sociedade. Há anos a Coreia do Sul e o Japão consomem os chamados vídeos sob saias. “São duas nações profundamente conservadoras, onde as discussões francas sobre o sexo são tabus e onde as mulheres são vítimas de discriminações sistemáticas”, explica.

“A molka é a união infeliz entre uma tecnologia que se desenvolve rápido e uma cultura patriarcal que evolui lentamente. O problema não será resolvido enquanto não o tratarmos de maneira mais ampla, através da educação”, afirma.

Com informações BBC Brasil, G1 e O Tempo.

Ajuda. Quando se busca pela molka na internet, o primeiro resultado é um site de vídeos. O segundo lista profissionais especializados no atendimento a viciados nesse tipo de prática sexual pela internet.