Solteiras não merecem

27/10/2017

Nem na China, onde mulheres que chegam aos 30 sem casar se tornam uma espécie de pária da sociedade, o público perdoou. Uma mulher jovem se vira para a mãe e tenta, de forma apreensiva, começar um diálogo: “mamãe…”. A mãe repousa os hashis (varetas utilizadas como talheres em países asiáticos) e responde: “Se você não trouxer um namorado para a casa da próxima vez, não me chame de mamãe!”.

De repente, toca a campainha um homem bem vestido aparece à porta com um buquê. A filha o apresenta como seu namorado. Os pais, radiantes, decidem, então, comprar produtos para casa na Ikea e o convidam para jantar.O comercial termina com os pais alegremente enchendo a tigela de arroz do jovem com comida, enquanto a filha observa a cena perplexa.

O comercial chinês da Ikea foi rapidamente tirado do ar pela empresa, que é da Suécia mas domina o mercado mundial de móveis modulares. Um pedido de desculpas também circulou em todos os meios. Mas o estrago foi enorme. Justamente porque as mulheres chinesas estão cada vez mais empenhadas em vencer o estigma de que precisam casar para serem aceitas socialmente. As solteiras acima de 27 anos são conhecidas como “mulheres sobrantes” e em algumas localidades os pais fazem uma espécie de leilão para conseguir para elas marido – a gente falou sobre isso aqui.

Repercussão

“O comercial discrimina as mulheres solteiras. Se seus próprios familiares te reprovam por não ter namorado, que tipo de mensagem isso passa?”, disse uma usuária do Weibo, uma popular rede social chinesa. “Ainda que esse tipo de situação, de fato, aconteça em muitas famílias, não é adequado retratar isso num comercial; é errado”, acrescentou outra.

A Ikea postou uma mensagem pedindo desculpas em chinês e inglês, lamentando ter passado “a ideia errada”. “Esse comercial de TV mostra como a Ikea ajuda os consumidores a, de forma prática e barata, converter uma sala de jantar típica em um local adequado para uma celebração. O objetivo foi encorajar consumidores a celebrar os momentos da vida cotidiana”, informou a varejista.
A justificativa, porém, não convenceu os críticos.

Alguns consideraram irônico que a propaganda tenha sido feita por uma marca da Suécia, país elogiado pela igualdade de gênero.
“Vem de um país que valoriza o direito das mulheres, mesmo assim a Ikea veiculou esse tipo de comercial”, criticou uma usuária.
Outra disse: “Uma marca internacional como a Ikea deveria trazer para a China as melhores coisas do mundo. Não deveria se inspirar nos aspectos ruins da China e levar isso para o mundo”.

O assunto tem se tornado cada vez mais sensível nos últimos anos, à medida que mais mulheres chinesas rejeitam a noção tradicional de que devem casar muito jovens e ter filhos.

Com informações da BBC e do The Telegraph.