08/08/2016

Intolerância

Primeiro ouro do Brasil é de uma mulher. Vítima de racismo.

Wazari no racismo

08/08/2016

rafaela

Da Cidade de Deus, uma comunidade violenta na cidade do Rio de Janeiro, para o pódio máximo nas Olimpíadas. A judoca Rafaela Silva ganhou a primeira medalha de ouro do Brasil. Mas ela não derrotou só a adversária –  Dorjsürengiin Sumiya, da Mongólia. No tatame ficaram também o racismo e o preconceito social. Rafaela foi chamada de “macaca” pela internet após ser desclassificada em Londres, nas Olimpíadas de 2012.

A desclassificação foi por pegar na perna da húngara Hedvig Karakas, um movimento proibido desde 2008.  Nas redes sociais, os internautas a chamaram de “macaca” e disseram que seu lugar era “na jaula”. Que era uma vergonha para a família, para o país. Rafaela bateu-boca com os usuários do Twitter, pedindo desculpas mais tarde. Chegou a pensar em largar o judô e enfrentou um período de depressão. Superou tudo isso com muitas vitórias.

Rafaela é a primeira mulher brasileira campeã mundial de judô, título conquistado em 2013, medalha de ouro no Mundial de 2012, prata no Mundial de 2011 e bronze no World Masters de 2012. Também tem duas medalhas em Jogos Panamericanos.

Com o apoio da família, que estava na arquibancada, ela venceu a adversária no tempo regulamentar com um wazari (ou waza-ri) –  quando o oponente cai com metade das costas ou quando é imobilizado por pelo menos 15 segundos.  Contou também com o apoio de uma torcida calorosa. Emocionada, deixou o tatame chorando. Num gesto de reconhecimento, jogou a faixa olímpica para a platéia após receber a medalha.

Infância difícil

De acordo com o jornal O Globo, Rafaela começou a treinar ainda na Cidade de Deus.  Aos sete anos seus pais a levaram à academia onde Geraldo Bernardes dava aula de judô. Queriam dar um jeito na filha briguenta, que com com frequência voltava da escola com advertências e colecionava brigas na rua, numa das comunidades mais violentas da cidade. Mesmo só tendo permissão para brincar do portão de casa para dentro.

Junto da irmã Raquel, Rafaela foi levada por Geraldo ao Instituto Reação, criado pelo ex-judoca Flávio Canto (bronze em Atenas-2004) e que tem escolinhas do esporte em áreas carentes do Rio. Até hoje, Geraldo é o treinador de Rafaela, no polo do Reação do sub-bairro do Pechincha, em Jacarepaguá.