O déficit na Previdência também está tirando o sono dos britânicos. Na última terça-feira (20), o Departamento de Trabalho e Pensões da Grã Bretanha (DWP) lançou um polêmico comercial de televisão para divulgar a lei que obriga todas as empresas no país a contratar planos de previdência privada para seus funcionários ate 2018. No filme, somos apresentados ao Workie, um enorme monstro peludo e colorido – ao estilo dos personagens da animação da Pixar, Monstros S.A – que vaga pelas ruas tentando falar com empregadores e empregados, que o ignoram. O fofo Workie é uma referência à aposentadoria e à necessidade de contratar uma pensão privada para garantir uma velhice fora da penúria.
Apesar de cerca de 5,4 milhões de trabalhadores já terem sido escritos em planos de pensão, ainda existem 1,8 milhões de empregadores que não adotaram a medida. São esses 1,8 milhões o maior foco do governo, que criou a lei diante da possibilidade de o sistema previdenciário não ser sustentável ao longo desses próximos anos – um problema que diversos países, inclusive o Brasil, enfrentam. Nas duas últimas décadas, a expectativa de vida global vem aumentando em quase todo o mundo. Dados de 2013 do Ministério da Saúde da Inglaterra (NHS) apontam que, para ambos os sexos, passou de 65 para 71 anos. Em Londres, especialmente, essa expectativa pode chegar aos 90 anos até 2030, o que aumentaria ainda mais a demanda dos serviços de previdência social do governo. E, claro, ampliaria o déficit da previdência.
O comercial, no entanto, vem sendo duramente criticado pela população e pequenos empresários. A primeira delas é que o comercial ignora a enorme burocracia e a complexidade do sistema para inscrever os funcionários nestes planos. Diferente das grandes empresas, que contam com departamentos de RH, os pequenos empresários dependem de orientações para cumprir os requisitos estabelecidos pelo governo. Como resposta, Lesley Titcomb, executivo-chefe do DWP explica que o website e as cartas enviadas para os empregadores já foram atualizados para garantir que eles tenham informações claras e relevantes para ajudá-los a entender o que eles precisam fazer, e quando, para cumprir a lei.
Além disso, muitos britânicos criticam a forma descontraída – ao usar um personagem como Workie – para tratar de um assunto tão sério, já que de cada seis aposentados no país, um vive em condições de pobreza. “O governo deveria criar um sistema mais acessível, em vez de fazer gracinha com bicho de desenho animado”, esbravejou uma pensionista no Twitter. Em entrevista ao The Guardian, a Ministra de Pensões, Ros Altman, defende: “Esta é uma campanha divertida e peculiar, mas por trás dela está uma mensagem muito séria. Precisamos que todos saibam que eles têm direito a uma pensão no local de trabalho – e precisamos que todos os empregadores compreendam a sua responsabilidade legal perante seus funcionários. Trata-se de um comercial feito também para as pessoas se sentirem mais positivas sobre o seu envolvimento com as pensões no local de trabalho“.
Mas a maior causa de polêmica é a verba utilizada para o desenvolvimento da campanha. O DWP confirmou que o custo total da campanha, que inclui TV, rádio, mídia impressa , online e publicidade ao ar livre, é de $ 8,54 milhões de libras. O custo da campanha vem sendo bastante questionada e considerada um desperdício de dinheiro, que poderia beneficiar diretamente a população. Muitos internautas criticam o alto investimento na campanha enquanto a previdência congela benefícios fiscais e cortam créditos. “O conceito do Workie pode ser alheio ao que estamos acostumados a ver em campanhas governamentais, mas se for bem sucedido terá sido um dinheiro bem gasto“, defende Tom McPhail, chefe do departamento de pesquisa de pensões.
