A mulher de César

07/05/2007

Por Maurício Lara

À mulher de César não basta ser honesta, é preciso parecer honesta. Se essa afirmação é verdadeira, uma analogia pode perfeitamente ser feita para a administração pública: a um governo não basta ser eficiente, é preciso parecer eficiente. E por que pode ser tão importante para um governo parecer eficiente? Porque é próprio da democracia que se instale uma permanente e, por vezes cruel, guerra de versões.

Uma moeda tem sempre duas faces e, quem lida com o Jornalismo e com as noticias, sabe que um fato tem habitualmente mais de uma versão. Uma história contada por um ou por outro vai sempre apresentar variações, conforme a ótica e os interesses de quem narra. Mais do que isso: se quem conta um conto sempre aumenta um ponto, até o tamanho, a importância e as conseqüências de um fato podem variar a partir das diferentes versões. Em política e administração pública o poder está sempre em jogo e em seu nome muita coisa é feita.

Na democracia moderna, com a rapidez, o alcance e a penetração dos meios de comunicação, as notícias correm velozes e fora de controle de quem a originou. Sem contar que notícia ruim anda muito mais depressa. Daí a grande preocupação dos administradores em zelar pela própria imagem, evitando impressões erradas e negativas e, se possível, até sonhando com uma imagem maior e melhor que a própria obra.

Às vezes, situações de extrema eficiência na formação dessa imagem permitem esse feito. Minas Gerais, atualmente, é um bom exemplo. O governador Aécio Neves conseguiu difundir uma imagem tão positiva que nem precisa encontrar respaldo nas ações cotidianas do governo.

É como se tudo tivesse sido realizado por ele, que acaba recebendo o mérito até por obras de governos municipais ou federal. Foi Aécio que fez. E é como se tudo que ele faz seja visto com bons olhos. É o melhor dos mundos para um governante, mesmo pontuando que os caminhos percorridos para esse sucesso de imagem merecem outra análise, mais aprofundada. Aqui estão sendo apontados apenas os bons resultados da comunicação e esses são inquestionáveis.

Há casos opostos. Assim como Aécio caiu nas boas graças do eleitorado, há governantes que caem em desgraça, marcados que ficam por entendimentos justos ou injustos da população. É verdade que governos sabidamente ruins têm muito menos chances de parecerem bons; mas o inverso pode acontecer: um governo sabidamente bom pode ficar marcado como um governo ruim ou inoperante. Em um cenário assim, não é de se estranhar que tanta atenção se dê, modernamente, às estruturas de comunicação.

Maurício Lara é Secretário de Comunicação da PUC Minas e sócio da Lara Agência de Comunicação e Pesquisa Ltda.