Parecia ser um estupro. Ela gritava por socorro. A maioria não fez nada.

Famosa por sua qualidade de vida, considerada a terceira melhor do mundo pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCED), poucos imaginam que a Suécia é também o país com a maior taxa de denúncias de casos de estupro no mundo.

O número de denúncias tem tudo a ver também com a conscientização acerca dos direitos das mulheres no país, mas o alto número de casos chamou a atenção de dois comediantes russos que moram no país que se apresentam como Vlad e Daniel. Eles são youtubers que mantém um canal de pegadinhas, o Normel Tv. Mas, no filme acima, não foi pegadinha. Eles realizaram um experimento social para chamar a atenção para a importância das denúncias e testar o índice de solidariedade/passividade diante de uma situação de violência contra mulher.

Em um carro com as janelas vedadas e estacionado em diferentes lugares em Estocolmo, a dupla deixou um áudio de uma mulher gritando no que parecia ser um estupro. As reações foram filmadas e o resultado foi chocante. Muitos foram absolutamente indiferentes aos pedidos de socorro e continuaram caminhando sem nem olhar para o carro. Outros até se assustavam, verificavam o carro e seguiram em frente. De acordo com a dupla idealizadora do experimento, cerca de 85% das testemunhas decidiu ignorar e sequer ligou para a polícia. A segunda parte do vídeo, entretanto, destacou os 15% que reagiram e tentaram ajudar a suposta vítima. Alguns batiam na janela e faziam força para abrir o carro . Outros mantiveram a distância e ligaram para a polícia.

No fim, eles deixaram um depoimento emocionado de um jovem que, momentos antes havia tentando firmemente salvar a moça agredida. “Poderia ser qualquer uma. Poderia ser sua mãe, sua irmã ou alguém que você conhece. Poderia ser uma amiga. Não precisa nem ser alguém que você conhece. Devemos reagir de qualquer forma para tornar a sociedade um lugar mais seguro“, disse o jovem que quase bateu em um dos youtubers (ele achou que era um agressor).

Suécia explica a posição no ranking

Apesar de confirmar que o número de casos registrados terem triplicarado nos últimos sete anos, especialistas destacam que é preciso ter cautela ao analisarem esses dados, já que esse aumento não significa necessariamente que haja uma epidemia do crime na Suécia. Para a ex-membro do Parlamento e líder feminista sueca Gudrun Schyman, o alto número de denúncias deve ser visto, também, em uma perspectiva otimista, já que esse aumento ocorreu após um amplo e intenso debate promovido no país que aumentou a conscientização pública e encorajou as mulheres prestarem queixa.

Klara Selin, socióloga do Conselho Nacional para a Prevenção de Crime em Estocolmo explica uma outra razão para o aumento de denúncias. “Na Suécia, há uma vontade explicita de registrar todo caso de dleito sexual separadamente, para torna-los visiveis nas estatisticas”, afirma Selin, em uma matéria do jornal Estadão. “Assim, quando uma mulher vai à policia e diz que seu marido ou namorado a estuprou quase todo dia no ano passado, a policia tem que registrar todos esses delitos um por um, separadamente. Assim, seriam, nessa hipotese, 300 casos de estupro apenas para uma unica vitima”, conclui.

No fim, o vídeo do experimento social faz um alerta: O maior pecado da humanidade é a indiferença.