O aquecimento global e o exemplo da Inglaterra

23/04/2007

Por Maria Helena Passos

Comprar feito é mais cômodo. A Natureza indica, entretanto, que, no mínimo, essa pode não ser uma atitude sábia. Quando não, prejudicial. Quem andar pela Inglaterra nesta segunda quinzena de abril e se sentir tentado a mastigar um crisp de queijo e cebola, pode se deparar com indícios de que já há mais gente se tocando disso do que se imagina.

Nas prateleiras das redes de supermercados e mercearias britânicas, os pacotinhos da Walkers, a maior fabricante desse tipo de guloseima por lá, agora providos de um selo da Carbon Trust, atestam o empenho da companhia em reduzir sua própria emissão de carbono no processo produtivo do item, colaborando assim, para minorar as mazelas ambientais do planeta.

Diante do estrago ambiental em que estamos metidos, sem dúvida, é coisa de formiga frente a elefante. Assume porém porte gigantesco quando se considera que, ao agir dessa maneira, a Walkers está nadando contra a maré dos que preferem comprar o direito de seguir poluindo nos países desenvolvidos botando dinheiro em projetos ambientalmente corretos do outro lado do mundo. Isso, quando o fazem e não prosseguem poluindo sem dar bola para nada.

Mas, que tal arrumar a própria casa antes de empurrar a conta para os outros? No Brasil, ao se deparar com a marca Boots em shampoos, fabricados pela recém-nascida fusão entre a indústria química lusitana Alliance UniChem e a cadeia varejista de cosméticos britânica Boots Group, em qualquer loja de cosméticos importados, possivelmente você não verá o selo da Carbon Trust. Nos quiosques de beleza ingleses, no entanto, eles já o exibem.

Qual o compromisso? Reduzir em 20% a emissão atual de carbono na fabricação do item. O prazo? Dois anos. Se, até 2009, o Boots Alliance não cumprir o prometido, a Carbon Trust, empresa criada em 2001 pelo governo de Tony Blair para estimular o mundo corporativo britânico público e privado a fazer sua parte no esforço de transição para uma economia com baixo teor de carbono, caça o selo. O mesmo pode acontecer com as duas outras signatárias: a terceira é a Innocent Drinks.

A Walkers Crisps já reduziu em um terço seu consumo de energia por quilo e em 45% seu gasto de água para produzir suas comidinhas. Agora, a meta é encolher, a cada ano, 3% e 5% no uso de cada um dos insumos. Falhar e perder o selo pode doer no bolso de seus acionistas, já que uma pesquisa feita pela Carbon Trust junto ao consumidor britânico concluiu que 66% deles querem saber quanto carbono os fabricantes dos produtos que consomem emitiram para produzi-los.

Por si, o selo, que não deixa de ser uma comunicação de interesse público inserida no negócio corporativo, reforça a consciência consumidora. Concorrentes dos fabricantes comprometidos em zelar pelo meio ambiente que se cuidem, pois o mercado está de olho.

O britânico, ao menos. Mas ele deu a largada para gente disposta a fazer a lição de casa em casa, seja qual for sua parte no globo.

Maria Helena Passos é jornalista