O primeiro assédio

23/10/2015

 

Desde a última quinta-feira (22 de outubro), diversas mulheres compartilham relatos no Twitter sobre os primeiros assédios que sofreram na vida. E levaram a hashtag #primeiroassédio aos trend topics da rede social durante todo o dia. Criada pela ONG feminista Think Olga, #primeiroassédio é uma reação aos assédio sexual  feito por usuários do Twitter a uma menina de 12 anos que participa do reality show Master Chef Junior.

Estreada na última terça-feira (20), a nova edição do programa para aspirantes a chefs de cozinha agora tem crianças de 8 a 13 anos como concorrentes. E assim como as duas edições anteriores, é um sucesso tanto em audiência quanto nas redes sociais – especialmente no Twitter. Com apenas 12 anos, Valetina, uma das crianças participantes chamou a atenção de diversos usuários que passaram a postar comentários constrangedores e criminosos (a lei brasileira classifica esse tipo de assédio como abuso sexual por se tratar de menor de idade). Alguns homens tuitaram coisas como “se tiver consentimento é pedofilia?” e “a culpa da pedofilia é de meninas gostosas como a Valentina”. Além disso, muitos justificavam os comentários apontando a aparência “mais desenvolvida” da menina.

A Think Olga  lembra que esse tipo de assédio – agravado pela pedofilia – precisa e deve ser punido. E para chamar a atenção para o que classifica de “cultura do estupro”, a ONG convocou as mulheres a acabar com o silêncio. Já são mais de 30 mil relatos comoventes. Eles mostram que desde criança, as mulheres estão vulneráveis ao assédio. Muitas vezes se calam por medo ou por não encontrarem apoio. São histórias de abusos que ficaram escondidas por anos. Veja abaixo alguns dos relatos.

        

 

    

 

    

 

Aproveitando a discussão, a Unicef reforçou sua campanha contra a violência sexual na infância.

Em um artigo sobre a polêmica publicado no Brasil Post, a jornalista Carol Patrocínio alerta que quando uma menina de 12 anos em um reality show desperta o desejo de homens adultos é extremamente necessário falar sobre a cultura do estupro. “A cultura do estupro caminha ao lado da ideia de que homens não conseguem conter seus instintos. Ela está totalmente ligada ao falso consenso que poderia dar uma criança. Ela é reforçada pela infantilização de mulheres adultas. A impunidade é sua melhor amiga e a culpabilização da vítima sua principal arma“, afirma.

Ouvida pela articulista, a gerente de conteúdo da Think Olga, Luise Bello, reforçou a importância de oferecer essa oportunidade de desabafo. “Finalmente ela podem ter voz para falar, ter espaço para mostrar o absurdo que isso é. Falar é mostrar que o problema existe, é usar nossa voz para mostrar que acontece sim, que incomoda sim, e que nenhuma criança merece passar por isso”, diz. Dados oficiais e recentes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que 70% das 500 mil mulheres que são vítimas de estupro por ano no Brasil são crianças e adolescentes – sendo 51% menores de 13 anos.