30/06/2016

Intolerância

Filme expõe preconceito contra crianças pobres.

Tratamento desigual

30/06/2016

Nas ruas da cidade Tbilisi (Geórgia), uma menina bem vestida desperta compaixão de várias pessoas que se aproximam para oferecer ajuda. A mesma criança, uma atriz de seis anos, ao ser vestida com roupas esfarrapadas e com maquiagem imitando fuligem teve tratamento oposto. Aliás, a criança foi tão maltratada que foi às lágrimas e a produção encerrou ali o experimento social da Unicef.

“Porque o meu rosto estava coberto de fuligem e as minhas roupas estavam sujas. Isso me deixou triste. Todos eles foram me dizendo para ir embora”, desabafou Anano.  Mesmo tendo encerrado antes do programado, as câmeras escondidas conseguiram captar material suficiente para fazer um filme impactante. A criação é da agência Switch Communications (Geórgia).

O filme está sendo veiculado desde ontem (28/6) pela Unicef nas redes sociais e já conta com milhares de compartilhamento. O objetivo é divulgar o novo relatório Situação Mundial da Infância. Com base nas tendências atuais, 69 milhões de crianças menores de 5 anos morrerão de causas que poderiam ser evitadas, 167 milhões de crianças viverão na pobreza e 750 milhões de mulheres terão se casado ainda crianças até 2030.

“Negar a centenas de milhões de crianças oportunidades justas na vida faz mais do que ameaçar seu futuro, alimentando ciclos intergeracionais de desvantagem: coloca também em perigo o futuro de suas sociedades”, disse o diretor executivo do UNICEF, Anthony Lake, na divulgação do relatório. “Nós temos uma escolha: investir nessas crianças agora ou permitir que o nosso mundo se torne ainda mais desigual e dividido”. O relatório aponta para a evidência de que investir nas crianças mais vulneráveis pode trazer benefícios imediatos e de longo prazo. Os programas de transferências de renda, por exemplo, têm demonstrado sua utilidade em ajudar as crianças a permanecerem na escola por mais tempo e avançarem para níveis mais elevados de educação. Em média, cada ano adicional de educação que uma criança recebe aumenta sua renda, quando adulta, em cerca de 10%. E, em média, para cada ano adicional de escolaridade concluído por jovens adultos em um país, as taxas de pobreza desse país caem 9%.

Avanço desigual

O relatório aponta que um progresso significativo foi alcançado em relação a salvar a vida das crianças, colocá-las na escola e tirar as pessoas da pobreza. As taxas globais de mortalidade de menores de 5 foram reduzidas em mais da metade desde 1990, meninos e meninas frequentam a escola primária em igual número em 129 países e o número de pessoas que vivem na pobreza extrema no mundo inteiro é quase metade daquele registrado na década de 1990.

Mas esse avanço não ocorreu de forma igualitária ou justa, diz o relatório. As crianças mais pobres têm duas vezes mais probabilidade de morrer antes do seu quinto aniversário e de sofrer de desnutrição crônica do que as mais ricas. Em grande parte da Ásia Meridional e da África ao sul do Saara, crianças nascidas de mães sem educação formal têm quase três vezes mais probabilidade de morrer antes dos 5 anos de idade do que aquelas nascidas de mães com o ensino secundário. E as meninas das famílias mais pobres têm duas vezes mais chance de se casar ainda crianças do que as meninas de famílias mais ricas.

Em lugar nenhum a perspectiva é mais sombria do que na África ao sul do Saara, onde pelo menos 247 milhões de crianças – ou duas em três – vivem em pobreza multidimensional, privadas do que precisam para sobreviver e se desenvolver. Com informações da Unicef.