Você sabe onde pisa?

03/08/2007

Por Maria Helena Passos

Você sabe exatamente o que possui em sua propriedade urbana ou rural? Quem achou a pergunta sem nexo, pode começar a mudar de idéia. E se aquele fio de água que escorre em seu terreno configurar um legítimo manancial? Você seria capaz de reconhecê-lo imediatamente?

Nem sempre isso é possível sem a ajuda de quem entende do riscado. E o solo que você possui pode abrigar riquezas cujo valor tem se tornado particularmente apreciado nestes dias de desastres ambientais e conscientização em alta.

Nada melhor, portanto, do que ficar atento. E prestar atenção em um projeto, astutamente batizado de Oásis, da Fundação Boticário, alimentado por US$ 400 mil doados pela Mitsubishi International Corporation Foundation.

Para onde irá esse dinheiro? Para projetos de serviços e preservação de mananciais em 80 mil hectares de terrenos situados na Região Metropolitana de São Paulo. Mais exatamente na Bacia Hidrográfica de Guarapiranga e nas áreas de Preservação Ambiental (APAs) Capivari-Monos e Bororé-Colono. Trata-se de corredores de biodiversidade entre a Reserva Florestal de Morro Grande e o Parque Estadual da Serra do Mar. Dali sai água para abastecer quase quatro milhões de pessoas.

O Oásis foi modestamente divulgado pela imprensa e a Fundação utilizou apenas a distribuição de folders em eventos sobre meio-ambiente realizados na região onde é desenvolvido o projeto para dar a conhecer essa legítima iniciativa de interesse público. Mas se a comunicação foi discreta, a idéia é tão ousada quanto inédita no Brasil. E certamente merece ser mais propalada junto à população do país.

Está funcionando assim: se você suspeitava que o seu terreno no perímetro delimitado pode abrigar um manancial, entrava em contato com a Fundação pelo endereço eletrônico do projeto ou por telefone com um dos técnicos do projeto na entidade. Se eles julgavam ser o caso, seu terreno recebia uma visita para incluí-lo como candidato à participação no projeto.

Tal prospecção se deu em maio e junho últimos, com apoio do governo paulista. Ocorre agora a seleção final, para a assinatura de contratos onde, por cinco anos os proprietários são financiados para proceder a serviços de preservação ambiental em seus terrenos. O que vem a ser isso? Tarefas que melhoram as condições de vida como a filtragem natural da água, o cuidado com os recursos da biodiversidade (genéticos, químicos e alimentares), a polinização de lavouras, o controle biológico de pragas e outros.

Um exemplo: se sua propriedade tiver 10 hectares da área natural e você tiver sido selecionado, receberá quatro mil reais por ano, ou seja 20 mil reais por todo o período. Mas terá que cumprir a risca o contrato com a Fundação, passível de rescisão tanto se o proprietário não cumprir o estipulado, como de premiação, caso ele tenha ido além e feito mais do que lhe foi exigido.

Mas, e quando os cinco anos acabarem? Bem, a Boticário estuda a possibilidade de renovar contratos. Não é para menos. A estimativa da Fundação é de proteger 2.500 hectares de áreas naturais dos 40 mil hectares cobertos por vegetação natural que há na área. Dado o contingente de seres humanos que vivem da água produzida ali…

Melhor que isso seria se outras empresas, inspiradas pela Fundação curitibana informassem ou dessem ao cidadão, nos quatro cantos do país, a possibilidade de conhecer melhor o terreno onde pisam. E estímulo para cuidar dele como se deve: como um bem público.

Maria Helena Passos é jornalista
helenawf@uol.com.br