Fake news: como evitar

30/01/2018

 

Para não cair na onda de histórias falsas da internet, tem algumas ferramentas acessíveis. A principal é o Google. Viu algo inusitado em um site ou blog que não é ligado a sites de notícias consagrados, bota na pesquisa e vê o que aparece. Também tem sites que você pode perguntar se algo é falso como o Boatos.org e o E-farsas.

Se a checagem é sobre política ou economia perca um pouco mais de tempo vendo se tem algo na Lupa ou Truco. Mas não se preocupe, uma hora ou outra você será vítima dessa praga que se alastra nas redes sociais e pelo WhatsApp. Mas a dica de ouro é sempre vale duvidar daquela opinião marota ou da história do amigo do primo que garante. E áudios. Sem link, áudios compartilhados (enfermeiras, policiais, médicos) em geral são falsianes prontos para te enganar.

Não há limites para os boatos da internet: de suicídio (lembram do suposto jogo Baleia Azul?) à vacina homeopática contra a febre amarela. As fake news estão em toda parte, inclusive no noticiário. Sim, até os jornalões vez ou outra pagam mico caindo numa história falsa. O compartilhamento torna muito difícil conter os danos. A ponto de ameaçar até mesmo a democracia. Recentemente, o Tribunal Superior do Trabalho (TSE) determinou uma força-tarefa reunindo Ministério Público e Polícia Federal para garantir que as eleições deste ano não sofram interferência das fake news.

Isso porque, dizem por aí, que as fake news foram as responsáveis pela eleição do atual presidente dos EUA, Donald Trump. Sem amor de uma boa parcela da população, ele já colhe os frutos das histórias contra ele: cerca de 30% de popularidade. Mas, ao contrário do que se pensa, as histórias falsas ganharam um nome chique na internet – fake news – mas não são propriamente uma novidade. Boatos e histórias falsas existem desde sempre.

Charge de jornais da época da Revolta da Vacina.

Para usar um exemplo emblemático vamos lembrar a comoção causada pela vacinação obrigatória contra a varíola no Rio de Janeiro em 1904. Uma das razões mais fortes que levou a população a se revoltar e partir para o embate com a polícia e até os militares foi o boato que os agentes de saúde aplicariam a vacina não no braços (como era) mas na coxa ou na altura da virilha das mulheres fazendo com que uma onda de indignação mobilizasse muita gente em defesa da honra doméstica. Resultou em 30 mortos e 110 feridos, além de centenas de pessoas presas. Até hoje ainda persistem boatos (relação com autismo, efeitos colaterais) e teorias da conspiração.

O problema é que, na internet, os boatos encontraram não só um ecossistema favorável como adubo para lança-los em escala mundial e, por isso, influenciam o comportamento e manipulam pessoas. Uma matéria da EBC o estudo Robôs, Redes Sociais e Política no Brasil, da Fundação Getulio Vargas, mostra como robôs ou bots (perfis falsos presentes em mídias sociais) são capazes de distribuir, em escala industrial, mensagens pré-programadas, e concluiu que contas automatizadas motivam até 20% de debates em apoio a políticos no Twitter. A pesquisa mostra que partidários de todos os espectros políticos têm usado esse tipo de tecnologia.

Boatos e tragédias

Em maio de 2014, Fabiane Maria de Jesus foi morta brutalmente por vizinhos após ser acusada de magia negra em Guarujá (SP). Ela tinha 33 anos e foi espancada até a morte por causa de uma fake news veiculada em uma página do Facebook. Segundo a publicação, que publicou um retrato falado de uma pessoa parecida com Fabiane, uma seqüestradora de crianças estava agindo na reunião. As crianças seriam sacrificadas em rituais. Quase três anos após sua morte, uma das fotos de seu linchamento tem sido compartilhada juntamente à de uma criança sob a manchete: “Mulher é linchada até a morte após violentar neném com soda cáustica”.

Em abril do ano passado, uma multidão tentou linchar um casal em Araruama, na região dos Lagos no Rio de Janeiro, depois que um boato de que eles seriam sequestradores de crianças se espalhou em uma rede social. Mas o casal, que apanhou bastante, não tinha feito nada de errado – mas estava em um carro branco. Uma publicação em uma rede social dizia que um casal em um carro branco estaria sequestrando crianças em Araruama. E não são casos isolados.

Depois que a turba é desperta por um boato virtual, nem sempre os desmentidos conseguem desfazer o mal. É o que aconteceu com a página responsável por divulgar a história e o retrato falado da suposta sequestradora de Guarujá. Depois da reação ao post inicial, ele investigou e descobriu que era só boato. Refez o texto, retirou as imagens do retrato falado e incluiu a errata, respondeu nos comentários que a história não era verídica – chegou a procurar a PM para postar um comunicado oficial e acalmar os leitores. Mas não adiantou. O imaginário coletivo já estava como que encantado por um vilão real, ao alcance dos punhos.

Diante das críticas crescentes, os principais players – Google, Twitter e Facebook – anunciaram que vão adotar medidas mais firmes contra as fake news. A conferir.